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São Paulo, 07 de junho de 2025

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12/04/2025

Desempenho da Embraer aquece demanda de fornecedores locais

(*) Sheila Moreira

(13/04/2025) – O setor aeroespacial brasileiro está em ritmo acelerado, impulsionado principalmente pelo desempenho da Embraer, gigante da aviação nacional. A empresa tem se destacado tanto no mercado civil quanto de defesa, consolidando sua posição estratégica em um cenário global marcado por conflitos geopolíticos e aumento nos investimentos militares e de defesa.

“Sobre o cenário industrial aeroespacial no Brasil, eu diria o seguinte: o mercado continua bastante aquecido aqui para nós brasileiros, principalmente por conta da Embraer”, afirma José Wilmar de Mello, presidente da CSAER – Câmara Setorial de Máquinas, Equipamentos e Componentes do Setor Aeroespacial e de Defesa, da Abimaq.

Em sua avaliação, a Embraer ocupa um nicho específico no setor, com aeronaves de corredor único (jatos E2) — nem tão grandes quanto os modelos da Airbus ou Boeing, nem tão pequenas quanto outras concorrentes. “Ela está exatamente num nicho bastante interessante, onde sempre atuou com muita força, e agora está com muitas oportunidades.”

Após a desaceleração imposta pela pandemia, o setor vem experimentando forte intensificação. “O produto da Embraer é muito reconhecido, então está sendo muito bem aceito”, destaca Mello. Mesmo com a concorrência de modelos como o A220, da Airbus — anteriormente pertencente à Bombardier —, a empresa brasileira tem mantido sua competitividade no cenário internacional.

No segmento de defesa, o ambiente global tem gerado novas demandas. “Por causa dos conflitos na Ucrânia e na Faixa de Gaza, entre outros riscos geopolíticos, os países estão se armando. Isso está puxando fortemente o desenvolvimento desse mercado”, explica Mello. Ele aponta que o cargueiro KC-390, fabricado pela Embraer, vem se destacando como uma das principais apostas do setor. “É um mercado estratégico, com muitas informações sigilosas, mas o que percebemos é um crescimento bastante grande na área de defesa.”

Competitividade e desafios na cadeia de suprimentos – Apesar do bom desempenho da indústria aeronáutica brasileira, o setor ainda enfrenta desafios estruturais, especialmente no que diz respeito à cadeia de suprimentos e ao acesso à matéria-prima. De acordo com o presidente da CSAER, o Brasil mantém um bom nível de competitividade, principalmente entre os fornecedores locais. “A gente sempre foi bastante competitivo, principalmente por conta da taxa do dólar. Agora, com a desvalorização do real, ficamos ainda mais competitivos”, afirma.

Esse cenário favorece os fornecedores que atuam no mercado interno, especialmente em parcerias com a Embraer, cujos produtos têm forte apelo internacional. “Aqui dentro do Brasil, a gente consegue ser bastante competitivo, e mais ainda agora, porque como 95% dos produtos da Embraer são exportados, ela consegue trazer a matéria-prima sem pagar impostos. Ela basicamente produz para exportar e subcontrata a mão de obra local”, explica Mello.

Contudo, o cenário muda quando se trata de competir globalmente, principalmente com grandes fabricantes como Boeing e Airbus. “Temos um agravante: como toda a matéria-prima bruta precisa ser importada — por exigência de rastreabilidade e critérios dos próprios clientes —, ela entra no país com um custo muito alto. E aí, mesmo com mão de obra mais barata e uma taxa cambial favorável, a gente acaba perdendo competitividade para fornecimento no exterior”, lamenta.

Segundo José Wilmar de Mello, isso impede que muitas empresas brasileiras explorem oportunidades em mercados como o europeu e o norte-americano, especialmente no fornecimento para grandes OEMs (Original Equipment Manufacturers) ou para seus fornecedores de primeiro nível, os chamados Tier 1’s. “Infelizmente, o custo elevado da matéria-prima acaba sendo um impeditivo. Mesmo sendo eficientes e com boa capacidade técnica, ficamos limitados por esse fator.”

O presidente da CSAER explica que o modelo produtivo adotado pela Embraer, com produção altamente horizontalizada, também traz à tona a importância estratégica dos fornecedores nacionais. A empresa depende fortemente da cadeia local — tanto para serviços e transformação quanto para fornecimento de componentes e, em alguns casos, matéria-prima. “Esse mercado em que estamos inseridos é bastante importante do ponto de vista do fornecimento. A Embraer horizontalizou bastante a produção, então ela depende muito dos fornecedores”.

Entretanto, o aumento expressivo da demanda no setor — tanto por parte da Embraer quanto das gigantes globais Boeing e Airbus — tem provocado tensão na cadeia de suprimentos. “Hoje existe um problema bastante grande de abastecimento. Com a demanda mundial aquecida, já se percebe a falta de alguns produtos. Isso compromete as entregas das OEMs”, aponta Mello. Um dos gargalos mais críticos está nos componentes de alto valor agregado, como os motores de aeronaves. “Os motores não são produzidos pelas OEMs. Eles vêm de fornecedores especializados como Pratt & Whitney, GE e outros. Quando começa a faltar matéria-prima ou insumos, compromete toda a cadeia”, explica.

Nesse contexto, a indústria aeroespacial brasileira vive um paradoxo: ao mesmo tempo em que ganha força com o aquecimento do mercado e a demanda internacional, precisa enfrentar desafios estruturais que limitam sua competitividade global. A aposta está na resiliência da cadeia local, na valorização dos fornecedores e em políticas que favoreçam a integração e o fortalecimento desse ecossistema estratégico para o país.

Expectativas da Abimaq para o setor – De acordo com Mello, as empresas associadas à associação e que integram a CSAER têm perfil majoritariamente voltado à transformação e prestação de serviços de usinagem, com foco no alumínio — insumo muitas vezes fornecido diretamente pela Embraer.

Apesar dos desafios, o clima é de otimismo. “A expectativa daqui para frente é bastante grande, não só pelo mercado de aviação comercial e executiva, como também pelo mercado de defesa. A demanda está subindo, e as empresas estão se adequando a esse novo ritmo”, destaca Mello. A digitalização e a inovação aparecem como vetores importantes para o fortalecimento do setor. “A inovação é extremamente importante. Ela torna as empresas mais produtivas e com maior controle, o que beneficia toda a cadeia”, afirma.

Com um mercado aquecido, forte presença da Embraer e oportunidades crescentes nos segmentos civil e de defesa, o setor aeroespacial brasileiro vive um momento de consolidação e projeção internacional. No entanto, para que o país amplie seu protagonismo global, será necessário enfrentar desafios como o alto custo da matéria-prima e os gargalos na cadeia de suprimentos. A aposta da CSAER e da Abimaq está na capacidade de adaptação da indústria, no fortalecimento dos fornecedores locais e na inovação como caminho para a competitividade sustentável.

(*) Sheila Moreira é repórter do Usinagem-Brasil

 

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