(13/07/2025) – A ameaça do governo norte-americano de taxar em 50% as exportações brasileiras, se concretizada a partir de 1º de agosto, irá afetar diretamente a indústria de máquinas e equipamentos do Brasil. Os EUA são o principal destino das exportações nacionais desses produtos, respondendo por 25,8% das exportações do setor.
Em 2024, as exportações de máquinas e equipamentos para os EUA somaram US$ 3,54 bilhões, enquanto as importações totalizaram de US$ 4,7 bilhões. Ou seja, assim como no caso da balança comercial do Brasil com os Estados Unidos, a do setor de bens de capital mecânicos também é deficitária. Mais precisamente em US$1,16 bilhão, só no ano passado.
“Esses números mostram que a relação comercial é vantajosa para os Estados Unidos, o que anula o argumento de que haveria um desequilíbrio que justificasse a imposição de tarifas de importação adicionais”, destaca a Abimaq – Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos, em nota oficial divulgada em 11 de julho.
Na verdade, antes mesmo da possível nova tarifa entrar em vigor, as exportações brasileiras de máquinas e equipamentos para os EUA já foram impactadas pela guerra de tarifas introduzida por aquele país no início do novo governo. De janeiro a maio (o dado mais recente disponível) a retração é de 18,3%, na comparação com o mesmo período do ano passado, enquanto as importações mantiveram estabilidade.
A Abimaq ressalta ainda que “grande parte dos produtos exportados pelos Estados Unidos ao Brasil entram com tarifa zero e a tarifa média efetiva aplicada às importações dos Estados Unidos é de apenas 2,7%. No setor de máquinas e equipamentos, estima-se que a alíquota média seja ainda menor em função de regimes especiais de importação”.
A ameaça do presidente norte-americano – publicada em rede social (!) – gerou manifestações de várias outras entidades nacionais da indústria, do comércio e dos trabalhadores. Entre elas, a da AEB – Associação de Comércio Exterior do Brasil, que diz ter recebido com indisfarçáveis surpresa e indignação a informação do aumento para 50% da tarifa de importação dos Estados Unidos sobre todos os produtos brasileiros. Para o presidente executivo da entidade, José Augusto de Castro, não se trata de uma medida econômica, mas política com impacto econômico de grande lastro.
“É certamente uma das maiores taxações a que um país já foi submetido na história do comércio internacional, só aplicada aos piores inimigos, o que nunca foi o caso do Brasil”, diz Castro, lembrando que a AEB entende que o cenário que hoje se vislumbra é muito duro para o Brasil, pois se refere a uma ameaça não só aos nossos exportadores, mas a toda a economia do país. “Todavia, a entidade acredita que o bom senso prevalecerá e a taxação será revertida”.
Já a Amcham Brasil (Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos) manifestou profunda preocupação com a decisão anunciada pelo governo dos Estados Unidos. “Trata-se de uma medida com potencial para causar impactos severos sobre empregos, produção, investimentos e cadeias produtivas integradas entre os dois países”.
Segundo a entidade, a relação bilateral entre Brasil e Estados Unidos sempre se pautou pelo respeito, pela confiança mútua e pelo compromisso com o crescimento conjunto. “O comércio de bens e serviços entre as duas nações é fortemente complementar e tem gerado benefícios concretos para ambos os lados, sendo superavitário para os Estados Unidos ao longo dos últimos 15 anos – com saldo de US$ 29,2 bilhões em 2024, segundo dados oficiais norte-americanos”, informa a Amcham nota à imprensa.
“A Amcham Brasil conclama os governos a retomarem, com urgência, um diálogo construtivo. Reiteramos a importância de uma solução negociada, fundamentada na racionalidade, previsibilidade e estabilidade, que preserve os vínculos econômicos e promova uma prosperidade compartilhada”, conclui a nota.
TARIFA POLÍTICA – “Não estamos diante de uma tarifa econômica, mas sim de uma ‘tarifa política’, já que os números da cadeia de comércio entre os dois países contradizem os argumentos apresentados pelo presidente Donald Trump de que o Brasil estaria se utilizando de ‘práticas comerciais injustas’”, afirma Rogério Marin, presidente do Sindicato das Empresas de Comércio Exterior de Santa Catarina (Sinditrade),
Ainda segundo o especialista em comércio exterior, “o impacto deve ser sentido principalmente nas exportações da indústria de transformação, que representa mais de 78,3% das vendas brasileiras aos norte-americanos”.