Por Sheila Moreira, para o site Usinagem-Brasil
(06/07/2025) – O setor de ferramentarias no Brasil vive um cenário de relativa estabilidade em 2025, com desafios importantes no horizonte e apostas estratégicas para manter a competitividade diante de um mercado global cada vez mais agressivo. Em entrevista ao Usinagem-Brasil, Christian Dihlmann, presidente da Abinfer (Associação Brasileira da Indústria de Ferramentais), traçou um panorama detalhado do momento atual da indústria, os reflexos do cenário internacional e as ações estruturantes em andamento no país.
Depois de um 2024 considerado bom, 2025 começou com um ritmo mais modesto. “Estamos vendo um recuo leve na demanda em relação ao ano anterior, mas nada alarmante. Podemos fechar o ano com uma variação de até 5% para mais ou para menos em relação a 2024”, afirma Dihlmann. Segundo ele, a oscilação está diretamente ligada ao ambiente internacional — guerras, tensões comerciais e decisões das matrizes automotivas sobre eletrificação interferem no ritmo dos projetos no Brasil.
O setor automotivo continua sendo um dos grandes demandantes de ferramentais no país, porém a eletrificação dos veículos provoca incertezas. “Enquanto as matrizes definem suas plataformas tecnológicas — se elétrico, híbrido ou até hidrogênio — projetos ficam suspensos. Isso trava investimentos em ferramentais, que demandam altos volumes de capital”, explica o dirigente. Apesar disso, há expectativa de que mais de 25 projetos automotivos sejam desenvolvidos no Brasil nos próximos cinco anos. A cada novo projeto, estima-se que sejam investidos cerca de US$ 100 milhões em ferramentais.
Dihlmann também ressalta que há outros mercados igualmente relevantes, como o de embalagens. “Quando você abre uma geladeira e vê potes de maionese, iogurte etc. As tampas… tudo isso é molde. Em volume, esse setor até supera o automotivo”, observa.
Concorrência internacional e defasagem tecnológica – Enquanto a demanda apresenta certa recuperação, a oferta nacional enfrenta limitações graves, principalmente tecnológicas. “Estamos perdendo competitividade há anos. Nosso parque fabril envelheceu e muitas empresas deixaram de investir”, diz.
Com isso, de acordo com o executivo, clientes têm optado por importar ferramentais, sobretudo da Ásia. “Coreia, China, Índia e Turquia vêm com preços extremamente competitivos, além de uma capacidade tecnológica superior em alguns casos, especialmente em estampas metálicas de superfícies classe A, como portas e capôs”, afirma.
O setor de conformados metálicos é um dos mais impactados: “Hoje, matrizes de pele — aquelas que moldam a parte externa do carro — estão sendo encomendadas no exterior porque não temos tecnologia para atender aos padrões exigidos.”
Já os segmentos de plástico e fundidos (como blocos de motor e carcaças de bomba) seguem com desempenho razoável, ainda conseguindo competir em preço e qualidade. “Temos uma janela de viabilidade, mas ela pode se fechar se não acelerarmos a modernização”, ressalta Dihlmann.
Expectativas – Para 2025, a expectativa é de estabilidade, com leve viés de queda ou crescimento, dependendo do comportamento do cenário internacional. “Se o conflito entre Irã e Israel se intensificar, por exemplo, pode haver travamento do mercado mundial. Mas, na ausência de crises maiores, podemos avançar cerca de 5%”, projeta Dihlmann.
Com uma postura realista e propositiva, a Abinfer segue buscando soluções de médio e longo prazo para garantir a sustentabilidade do setor. “Não podemos apenas esperar que a demanda internacional melhore. Precisamos agir, formar talentos, modernizar processos e criar um ambiente competitivo internamente. É isso que vai garantir que a ferramentaria brasileira continue tendo um papel relevante na cadeia industrial global”, conclui o presidente da associação.