São Paulo, 12 de maio de 2024

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09/07/2022

Por que a indústria vem perdendo espaço no PIB? – 2

(10/07/2022) – Para o economista Paulo Castelo Branco, presidente-executivo da Associação Brasileira dos Importadores de Máquinas e Equipamentos Industriais (Abimei), a importação predatória é geralmente aquela representada por produtos manufaturados, que mesmo assim teria, pelo menos em alguns segmentos do marcado brasileiro, alguma razão de ser.

De acordo com Castelo Branco, a importação de bens acabados foi adotada, em alguns setores, para compensar a falta de indústrias com máquinas e equipamentos capazes de atender as necessidades do mercado em volume crescente e com produtos finais de qualidade e competitivos, inclusive no exterior. Já as máquinas e equipamentos são importados justamente para agregar esse valor nas indústrias brasileiras.

“Máquinas mais modernas sempre vão gerar mais empregos qualificados, de cunho mais tecnológico, e o decorrente aumento da qualidade e da competitividade também costuma abrir portas no mercado externo, gerando divisas e mais arrecadação de impostos”, explica o executivo.

A seguir, a íntegra da entrevista.

UB – O processo de desindustrialização do Brasil continua avançando, inclusive no principal setor na indústria de transformação, o automotivo, que viu o fechamento de várias fábricas de um tempo para cá. Isso está impactando a venda de máquinas importadas no país?

Castelo Branco – O setor automotivo ainda responde por 22% do PIB da indústria e por 4% do PIB total, e sua cadeia produtiva emprega mais de 1 milhão de pessoas. São dados da própria Anfavea. Quanto à redução do parque industrial do setor ao longo da última década, é algo perfeitamente explicável.

As montadoras investiram altos valores no Brasil no final dos anos 1990 e início dos anos 2000 e isso aumentou bastante a capacidade produtiva local. Esta capacidade foi estimada em até 5 milhões de unidades/ano, apesar de efetivamente o melhor resultado produzido nunca tenha sido maior que 3 milhões por ano.

Várias foram as razões que contribuíram para as indústrias não conseguirem atingir patamar maior que este, como a globalização das economias, que fez com que as indústrias automotivas decidissem importar componentes dos países com preços mais vantajosos, e desta forma deixando de fabricar vários componentes aqui no Brasil. A paridade cambial do valor do dólar com o real também influenciou bastante as decisões de produção das empresas no Brasil.

Outros fatores, como a alta taxa de juros e a defasagem tecnológica das máquinas e equipamentos locais, também colaboraram para que a produção fosse diminuída em função da baixa produtividade e falta de competitividade.

No geral, o próprio investimento em bens de capital no Brasil foi reduzido. A idade média hoje das máquinas é de 17 a 20 anos. Mas nos últimos anos as indústrias perceberam esta defasagem e estão tentando reverter esta situação, no caso das automotivas incrementando de novo a produção local de componentes.

Outro ponto que também colaborou para esta situação foi a decisão equivocada de dificultar a venda de máquinas e equipamentos importados no Brasil, através de taxações para a proteção dos produtores locais, que por várias razões acabaram não investindo em pesquisa e desenvolvimento.

Assim, a maioria das indústrias de máquinas e equipamentos locais ficou defasada, e não será fácil retomar todo este tempo perdido. Hoje as indústrias necessitam importar máquinas com alta tecnologia para poderem produzir com qualidade, produtividade e competitividade, de modo a abastecer o mercado local e ainda ter chance de exportar para outros países.

UB – Quais segmentos industriais são hoje os principais importadores de máquinas? E de peças de máquinas?

Castelo Branco – Principalmente segmentos como o automotivo, de eletrodomésticos, construção civil e aeronáutico, mas vários outros setores também compram.

UB – São em geral máquinas com mais tecnologia embarcada? Uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria, a CNI, diz que os investimentos da indústria em pesquisa e desenvolvimento cresceram 33,4% entre 2016 e 2019. Esse interesse em inovação pode eventualmente abrir nichos mais avançados para os importadores?

Castelo Branco – As máquinas importadas hoje em dia já contêm, na sua maioria, muita tecnologia embarcada e automação, justamente para gerar maior produtividade, qualidade e competitividade.

De fato, entre 2016 e 2019, as indústrias perceberam o tamanho de sua defasagem tecnológica e, mesmo com a pandemia, correram atrás de investimentos em inovação, principalmente para as fases de concepção e projeto e para os processos produtivos dos bens finais, tanto para incrementar a produção como para torná-la mais competitiva diante da concorrência.

UB – A importação de bens de capital, para alguns críticos, atrasa o desenvolvimento tecnológico do país comprador, para outros é o contrário, ajuda, pelo contato que os industriais terão com as novas tecnologias. A Abimei adota alguma política a respeito desta polêmica?

Castelo Branco – A Abimei sempre defendeu que a importação predatória é, geralmente, aquela de produtos manufaturados, que foi adotada em alguns setores do mercado brasileiro como alternativa para abastecer as necessidades dos consumidores, em função da falta de opções satisfatórias ou mesmo disponíveis no mercado interno.

Essa falta de opções decorreu, entre outros motivos, devido também ao déficit de indústrias dotadas de máquinas capazes de responder por um volume crescente de produção, e com produtos finais de qualidade e competitivos.

Afinal, máquinas mais modernas sempre vão gerar mais empregos qualificados, de cunho mais tecnológico, e o decorrente aumento da competitividade também costuma abrir portas no mercado externo, que geram divisas para o país e arrecadação maior de impostos locais.

UB – Como em qualquer país, há muita polêmica entre os industriais brasileiros sobre as tarifas de importação, que alguns consideram altas, outros consideram insuficientes. Para a Abimei, no Brasil, quem tem razão?

Castelo Branco – Entendo que, no Brasil, devido à atual defasagem tecnológica do setor de máquinas e equipamentos, deveríamos seguir a orientação da OCDE, de termos um mercado mais aberto, que possibilitasse um maior poder de compra das indústrias.

Se as alíquotas fossem todas zeradas nessa área, por exemplo, haveria um exponencial aumento no poder de produção local no Brasil. Estaríamos ganhando em todos os sentidos. Teríamos maior produtividade, mais empregos de qualidade e atualizados tecnologicamente e uma maior arrecadação de impostos.

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