São Paulo, 29 de março de 2024

26/03/2022

Os desafios do processo de cotação de usinagem

(*) Carlos Vinicius Lemes

(27/03/2022) – Brasileiro, engenheiro de produção formado pela FEI e mestre em engenharia mecânica pela Unicamp, Carlos Vinicius Lemes trabalha atualmente na Samot Indústria Mecânica, no México. Neste artigo especial para o Usinagem-Brasil, Lemes aborda as técnicas de cotação e custos de usinagem, área em que possui cerca de 10 anos de experiência, incluindo, além da Samot onde está desde 2020, passagens por empresas como Torcomp, SIN Implantes e Nova Injeção.

A competitividade acirrada entre as empresas do setor de usinagem cresce a cada dia no mercado global. Enquanto surgem novas empresas de médio e pequeno portes com excelentes estruturas, qualidade e bons profissionais, as empresas atuais buscam se atualizar, investir em bons equipamentos e ter profissionais cada vez mais qualificados. Em contrapartida, as empresas que compram serviços de usinagem, buscam um diferencial nestas empresas para criar parceria de longo prazo com empresas de usinagem confiáveis.

Além do bom preço e qualidade, a relação cliente x fornecedor no segmento de usinagem é fundamental para o sucesso de ambas as empresas, e o processo de cotação de usinagem é uma atividade importante neste relacionamento. Fazer uma cotação de usinagem assertiva, com bom preço, e entregar esta cotação em um curto prazo de tempo são os desafios para todos os usinadores.

Antes de comentar sobre os desafios do processo de cotação de usinagem, vamos entender um pouco mais do fluxo macro de cotação que ocorre comumente dentro da maioria das empresas de usinagem.

O “Processo de cotação” citado acima no diagrama de fluxo macro está detalhado logo abaixo com 15 atividades que são encontradas na maioria das empresas para realizar o processo de cotação de usinagem. Para fazer isso, vamos apresentar estas 15 etapas inseridas em uma tabela SIPOC que é uma ferramenta muito utilizada em metodologia six sigma e ajuda a mapear o processo e tornar claro cada etapa deste processo, além de auxiliar também no entendimento dos fatores que impactam diretamente na execução do trabalho como um todo.

Para aqueles que têm dificuldade de entender o processo de cotação de sua empresa, sugiro fazer o mesmo, ou seja, mapear todo o processo de cotação e as suas atividades. Além de utilizar as ferramentas apresentadas acima, como o diagrama de fluxo e a tabela SIPOC, recomendo também o mapeamento de fluxo de valor (VSM-Value Stream Mapping) obtendo mais detalhes do seu processo atual.

Depois de apresentar estas informações e entender bem como funciona o processo de cotação na maioria das empresas de usinagem, podemos agora falar com propriedade sobre os desafios encontrados neste cenário.

Dependendo de cada empresa, de cada estrutura que as empresas possuem dedicadas ao processo de cotação, os desafios podem variar. Vamos citar em seguida alguns aspectos que interferem diretamente no processo de cotação e com grande relevância para as empresas usinadoras e seus respectivos clientes.

Como ser assertivo na cotação? – Entregar a cotação ao cliente com um bom preço é fundamental para o relacionamento, isso torna a empresa competitiva. Se a cotação é para um cliente novo, pode abrir portas para novos negócios. Porém, não adianta ofertar um bom preço e não conseguir sustentar este preço, ou seja, é primordial nesta etapa, ser assertivo no processo de cotação.

A chave para fazer uma cotação assertiva é ter a ponta do lápis muito bem afiada para calcular de forma eficaz os custos da sua empresa como taxas hora-máquina e hora-homem, além dos custos como despesas administrativas, financeiras e lucro bem calculadas, que obviamente podem variar para cada tipo de peça ou para cada cliente. E, claro, calcular corretamente o tempo de usinagem.

Aqui vale um exemplo de como ser assertivo no cálculo de tempo de usinagem. No caso de uma cotação, a mudança de 20 peças por hora para 22 peças por hora (aumento de 10%), pode mudar drasticamente o custo de fabricação e consequentemente o custo a ser ofertado ao seu cliente. Daí a importância de fazer um estudo de tempo de usinagem coerente e assertivo.

Saber calcular corretamente o tempo de usinagem de acordo com a teoria matemática e cálculos de engenharia já conhecidos pode parecer fácil, mas requer muita atenção e conhecimento desta teoria. O profissional que realiza o estudo de tempo de usinagem deve ter experiência se possível de chão de fábrica e um amplo conhecimento em máquinas, ferramentas, tipos de materiais  e processos de fabricação.

Vamos revisar aqui algumas fórmulas básicas e os fatores que devem ser considerados no seu cálculo de tempo de usinagem:

onde:

Algumas empresas utilizam softwares de CAM para realizar o estudo de tempo de peças mais complexas. Isto possibilita uma simulação da usinagem com maior precisão nos movimentos e assim gerar um tempo de ciclo extremamente preciso. Porém, apesar de ser uma excelente ferramenta, ainda é necessário que o profissional que realiza este estudo tenha um bom conhecimento de conceitos de usinagem, escolha de ferramentas, máquinas e parâmetros de corte de usinagem.

Como reduzir o tempo de entrega da cotação? – Este desafio pode ser identificado por muitas empresas que fornecem serviços de usinagem. Vide o diagrama de fluxo macro e as atividades do processo de cotação apresentadas acima, ou seja, são muitas atividades e muitas informações que podem compor a sua cotação de usinagem. Na maioria das vezes, há atividades que dependem de mais pessoas de sua empresa ou fornecedores de máquinas, ferramentas ou de matéria-prima, que tardam para responder, o que acaba refletindo no tempo de entrega da cotação.

Acredito que algumas empresas já passaram pela situação na qual, após entregar a cotação ao cliente, receberam o feedback do fornecedor de que o prazo já passou e a cotação já não é mais válida. Ou seja, acabam perdendo a possibilidade de  perdido de participar do processo de cotação de um determinado cliente e, em consequência, perderam um negócio potencial por ter entregado fora do prazo, ainda que o seu preço esteja dentro do target. O que acontece na maioria dos casos é que o cliente costuma ter um prazo para nomear um fornecedor, e o prazo para ele também é muito importante.

Se este cenário acontece dentro da sua empresa, a primeira coisa a fazer é mapear e entender todo o processo de cotação da sua empresa, como citado acima. A sugestão também citada acima de fazer um VSM atual, realizar ações de melhoria e fazer um VSM futuro irá te ajudar muito a reduzir o tempo de cotação.

A segunda dica para reduzir o tempo de cotação é ter um “book” de informações que irão fazer com que você cote mais rápido e não dependa de tantas pessoas ou tenha que buscar informações com outras pessoas ou fornecedores. Por exemplo, se você tem uma tabela de preços de materiais comuns para usinagem, ou preço tabelado de custo de ferramentas, isso vai evitar que você tenha que cotar tudo isso, ganhando assim um tempo no processo como um todo. Outro exemplo é ter tempos de ciclos e custos de ferramentas para as peças atuais que já está fornecendo ou que já forneceu um dia, pois ao chegar uma peça similar para cotar, você pode considerar o mesmo processo, máquinas similares e tempo de ciclo similar, ou seja, se torna muito mais fácil e rápido chegar ao seu preço final.

Na verdade, para todas as 15 atividades listadas acima no *Processo de cotação pode-se fazer uma análise e criar o máximo de informações possíveis para a formação de um banco de dados, seja com lições aprendidas em peças ou processos similares, seja com pesquisa prévia e cotações já realizadas, como preços de material ou ferramentas.

É neste cenário de criação de banco de dados que a Indústria 4.0 poderia auxiliar e muito o nosso dia a dia do processo de cotação. Considere uma empresa que esteja 100% inserida na Indústria 4.0, e que os seus dados de produção estejam todos informatizados e armazenados em um banco de dados, assim como as peças já cotadas pela empresa.

Agora imagine que ao fotografar uma peça, ou mostrar um 3d para algum “software”, todas as informações de peças similares podem ser buscadas e mostradas instantaneamente. Este software imaginário poderia inclusive te mostrar, além das informações de produção real das peças similares, os materiais comumente utilizados para peças similares a esta, clientes que utilizam peças similares a esta e preços praticados em peças similares.

A ferramenta IoT (Internet das Coisas) já é uma realidade há muito tempo e este conceito pode ser aplicado facilmente no processo de cotação de usinagem. Exagero?! Tudo depende da estrutura e da demanda da sua empresa para o processo de cotação de usinagem, ou seja, você pode preparar desde o mais básico como um livro de informações e lições aprendidas, até no melhor dos cenários desenvolver um software especial para cotações de usinagem buscando informações em uma base de dados utilizando os princípios da Indústria 4.0.

Ainda que possa parecer simples o fato de cotar uma peça usinada, esta tarefa pode representar muito para a sua empresa, como um novo negócio promissor que pode crescer exponencialmente o seu faturamento, ou um estreitamento da relação com um cliente atual ou um potencial novo cliente, ou até mesmo o crescimento pessoal e de conhecimento dos profissionais que estão envolvidos neste processo. É neste cenário que qualificamos como fundamental ter muita atenção com este tema dentro das empresas que prestam serviços de usinagem.

Referências bibliográficas: COPPINI, N.L., 2015, Usinagem Enxuta: Gestão do Processo, Artliber Editora, São Paulo.

(*) Carlos Vinicius Lemes é engenheiro de produção pela FEI, mestre em engenharia mecânica pela Unicamp e pós-graduado MBA em gestão empresarial pela FGV, além de certificação Black Belt Six Sigma.

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