(09/12/2007) – Por um bom período, entre os anos 70 e 90, a Gremafer foi uma das principais – senão a principal – empresas de distribuição de ferramentas do País. De propriedade de Gregorio Marin Preciado, espanhol naturalizado brasileiro, com sede no ABC paulista, foi responsável pela introdução de cerca de 15 marcas no mercado brasileiro de usinagem, entre elas a Iscar, Walter, Mapal, SPK, Emüge-Franken, Gühring e Bilz. Ao todo, chegou a representar mais de 30 empresas, das áreas de máquinas e ferramentas.
Para distribuir essas marcas (e produzir suportes de ferramentas e cones adaptadores), a empresa buscou funcionários em outras empresas, mas também formou muitos profissionais. Estima-se que no seu auge chegou a contar com mais de 200 empregados, todos muito bem-remunerados e treinados, incluindo os que atuavam nas filais de RS, PR, SC, RJ e MG.
Em 1999, endividada, fechou as portas. Nessa época, grande parte dos funcionários já havia deixado a empresa. Alguns deles hoje ocupam cargos importantes em grandes empresas do setor de ferramentas, como é o caso de Eduardo Ribeiro e Ricardo Freitas, na Iscar; Sidney Paiva e Wandeir Pereira, na Mapal; Walter Campos, na YG-1; Júlio Lima, na Zobor; Zuza Guimarães e Marcelo Nicoletti, na Kennametal; André Vieira, Daniel Paixão e Roberto Melhuyser, na Walter; Ricardo Fernandes e Paulo Kamosaki, na TSCI-Sanposs; e Franklin Matoso, na Danobat.
Apesar do triste fim da empresa, os ex-funcionários ouvidos pelo site usinagem-brasil avaliam como positiva a experiência vivida na Gremafer. Para alguns, foi um trampolim para suas carreiras, mas num ponto são unânimes: “a Gremafer foi uma verdadeira escola”.
“Lá tive acesso a tecnologias de várias empresas”, conta Ricardo Freitas, hoje gerente de Marketing e Treinamento da Iscar do Brasil, que trabalhou na Gremafer de 1992 a 1995, após um período na Seco Tools. “Havia uma preocupação muito grande com treinamento. A diretoria tinha consciência da importância de os vendedores conhecerem a fundo as linhas com que trabalhavam. Era um diferencial”, diz, acrescentando que a vinda de técnicos do exterior para treinamento da equipe era constante.
Essa “escola” fica ainda mais evidente na conversa com Ricardo Fernandes, que trabalhou na empresa de 1984 a 1995 e que hoje é sócio da Sanposs-TSCI. Engenheiro mecânico, Fernandes conta que chegou à Gremafer com experiência na área de manutenção e poucos conhecimentos em usinagem. Com apoio da Gremafer conseguiu bolsa de estudos na Krupp, na Alemanha, e fez estágios na Espanha e na Alemanha, específicos para instalar em São Bernardo a linha de nacionalização dos adaptadores da Bilz.
“A Gremafer foi uma escola formadora de profissionais de usinagem”, afirma Fernandes que, após ficar dois anos na unidade de produção, assumiu o posto de gerente Técnico. Em sua opinião, a importância da empresa não se resumiu ao mercado paulista, já que preparou profissionais para várias filiais no Sul e Sudeste. “É uma empresa que fez história, com tudo o que trouxe de tecnologia e desenvolvimento”, diz, frisando que prova disso são as marcas trazidas ao País, hoje entre as principais do mercado brasileiro. Em certa medida, a Sanposs-TSCI, fundada em 1996, segue a trilha da Gremafer. Hoje, representa 17 empresas internacionais no País, em grande parte de origem alemã, todas ligadas à área de usinagem.
Walter Motta Campos, diretor-geral da YG-1 América Latina, teve curta passagem pela Gremafer, em 1995. Diz ter encontrado – apesar dos primeiros sinais de dificuldades financeiras – uma empresa bastante avançada em relação ao mercado. “A Gremafer tinha incorporado uma cultura internacional de venda, da venda técnica, com os vendedores preparados para ter uma conversa técnica com o cliente e com o fornecedor/fabricante”. Para exemplificar, lembra que conceitos como pagamento por peça ou por produtividade, que só muitos anos depois entrariam na agenda do mercado, já eram discutidos na Gremafer.
Quanto ao sucesso dos ex-funcionários, Campos tem uma explicação bastante prática. “Nada mais natural que as marcas representadas pela Gremafer, com a decisão de atuar diretamente no mercado nacional, procurassem os profissionais que conheciam seus produtos e sabiam onde estavam seus clientes”, analisa. (Antonio Borges Netto)
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Gremafer, celeiro de craques da usinagem – 2