São Paulo, 19 de maio de 2024

06/06/2010

Perspectivas e problemas da indústria do plástico

(06/06/2010) – *Por José Ricardo Roriz Coelho – A indústria brasileira de transformação do plástico, 3ª geração da cadeia petroquímica, constituída por 11,4 mil empresas, que emprega 330 mil trabalhadores e fatura R$ 35,9 bilhões anuais, tem substantivo potencial de crescimento nos próximos anos. Tal perspectiva é enfática nas vertentes essenciais da matéria-prima – o petróleo, cada vez mais disponível no Brasil – e no amplo mercado, constituído por praticamente todos os segmentos industriais, construção civil e bens de consumo. O aumento de renda dos brasileiros possibilita acesso crescente a produtos com embalagens plásticas, de maior valor agregado, como os do agronegócio.

Para otimizar de modo pleno todo esse potencial do setor no País, alguns gargalos precisam ser solucionados, a começar pela questão dos preços das resinas termoplásticas. Afinal, um dos grandes fatores de competitividade da indústria de transformação do plástico, em todo o mundo, é o custo dessa matéria-prima. Este é um grande nó a ser desatado no Brasil. As referências dos nossos preços de matéria-prima básica são os dos EUA e da Europa, que já há muito tempo vem perdendo competitividade nesta cadeia produtiva para a Ásia e Leste Europeu.

As empresas do setor têm a expectativa de que toda a sua cadeia produtiva no Brasil ganhe vantagens comparativas com as concorrentes externas e maior musculatura para produzir, a partir da recente fusão da Braskem e a Quattor. A junção das duas companhias resultou numa grande petroquímica de 2ª geração, na qual a Petrobrás passou a ter significativa participação acionária.

O desdobramento desse processo preocupa muito todo o mercado, considerando que a estatal, que já tem imensa influência, aumenta ainda mais seu poder de decisão no âmbito da cadeia produtiva. Resta saber como utilizará todo esse cacife. A expectativa é de que a fusão verticalize os ganhos, incluindo a indústria transformadora do plástico, cuja produção tem imensos reflexos na economia, pois está presente em quase todos os setores de atividade.

Automóveis, aviões, eletroeletrônicos, construção civil, brinquedos, linha branca, embalagens, sacos para numerosas finalidades, computadores, móveis, entre outros produtos e bens de consumo, contêm componentes plásticos. Portanto, não é difícil imaginar o impacto do custo da matéria-prima no conjunto dos preços internos de nossa economia, no poder de compra da população e nas exportações, disputadas palmo a palmo com concorrentes poderosos, como a China. Entendemos que a fusão das petroquímicas significa oportunidade histórica de se corrigir distorções e de se estabelecer, com critérios absolutamente técnicos, uma política adequada de preços para as resinas termoplásticas. Isso seria benéfico para o setor e para o conjunto de nossa economia e a sociedade.

O Brasil é autossuficiente em petróleo e será um grande exportador. Portanto, deveríamos ter as melhores condições para agregar valor ao longo da cadeia produtiva dos derivados. Os preços, com margens adequadas para todos os elos da cadeia, precisam situar-se num patamar que possibilite aumento do consumo no mercado interno e assegure competitividade para exportar produtos de maior valor agregado e que gerem mais empregos e riquezas aqui no Brasil.

Além desse tópico crucial das resinas, há outras questões a serem solucionadas: isonomia do IPI de resinas e produtos acabados com a de materiais sucedâneos; aumento do prazo de recolhimento dos impostos; e o acesso mais amplo a financiamentos e com o mesmo nível dos juros dos concorrentes internacionais, além de taxas de câmbio que não tirem a atratividade de exportarmos e que não induzam a uma maior importação de produtos acabados. Esses problemas, somados à antiga instabilidade dos preços dos insumos, incluem-se entre os fatores responsáveis pelo déficit da balança comercial da indústria de transformação do plástico, de US$ 800 milhões em 2009.

O setor, constituído majoritariamente por firmas pequenas e médias, também precisa fazer as lições de casa, como investir em modernização de equipamentos, inovação, pesquisa e capacitação gerencial. Missão decisiva, já em curso no País, é que os produtos estejam adequados aos mais rigorosos padrões ambientais.

Com empresas mais estruturadas, preços das matérias-primas equacionados e entraves fiscais e financeiros mitigados, a indústria do plástico não só consolidará sua posição como sétimo maior setor da economia brasileira, como dará paulatina contribuição para o crescimento sustentado e o desenvolvimento do País.

(*) José Ricardo Roriz Coelho, engenheiro, é presidente da Vitopel e do Conselho de Administração da Abiplast

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