São Paulo, 05 de maio de 2024

21/11/2008

O eletrodo e o surf na escola Senai de Campinas

Ivan Mazoni (*)

Também fiz Senai. Entrei em 1992 no curso de aprendizagem industrial (CAI) para cursar Mecânica Geral, e sai formado em 1995 como Ferramenteiro. Estudei na Escola Senai Roberto Mange, em Campinas, São Paulo. CPF 5.01. Acredito ser um sentimento entre todos aqueles que passaram pelas escolas Senai, uma grande saudade dos anos ali passados. Se houvesse máquina do tempo.

Não sei nas outras escolas Senai, mas em Campinas os alunos novos são chamados de “fiapos”, e nós fazíamos um som com a boca, como que chupando um fiapo de manga entre os dentes, que os deixavam apavorados. As brincadeiras eram muitas, mas o principal trote era o que chamávamos “surfar”. Os alunos veteranos faziam umas pranchas de surfe, em miniatura, na oficina, que podia ser de acrílico, madeira, metal, e os “fiapos” tinham que imitar os movimentos de um surfista, no pátio da escola, para todos os veteranos, e depois ainda agüentava uma salva de gritos, todos dizendo em uníssono: FIAPO!

Eu também surfei. Todos surfaram, não tinha como escapar. Uns surfavam no pátio, durante o intervalo de almoço, outros surfavam na rua, em frente a escola, outros no ônibus, voltando para suas casas. Eu surfei no centro da cidade, em frente a antiga estação de trem. Naquela época, surfar era uma humilhação, mas pensando nisso hoje, eu dou risada.

As brincadeiras não paravam por aí. Contar piada para o busto do Roberto Mange, patrono da escola, apagar o desenho de uma vela assoprando, matar formiga a grito, medir o tamanho da quadra com palito de fósforo, limar bits etc.

O pior era o 2º termo, você não é nem mais fiapo, mas também não pode brincar com os fiapos, porque os veteranos do 3º e 4º termo não deixam. Às vezes, alguém do 2º termo também surfava, caso fosse julgado “folgado” pelos veteranos.

Meu 1º termo foi na tornearia. Lembro como se fosse hoje, nossa sessão era a TO-4, no canto da oficina, ao lado das retificadoras. No 2º termo fui para a ajustagem, aprender a limar. Bloco estriado… aquela peça mais parecia um sabonete. Alternando entre tornearia e ajustagem, acabei meu curso na ajustagem, aluno do velho Valdemar Tafarello, ou como nós o chamávamos, o “Vardema”. Foi o Vardema que nos ensinou a soldar, primeiro solda elétrica, depois solda oxiacetilênica. E foi numa das aulas de solda elétrica que aconteceu uma história muito engraçada.

O box de solda era para dois alunos. Eu entrei, com um amigo chamado Muam. O Muam era um menino muito engraçado e humilde, e o Vardema gostava muito dele. Uma das lições que ele ensinou foi, se o eletrodo grudar na peça, mexa um pouco para lá e para cá, que ele solta. Ok. Equipamento de segurança? Ok. Peça limpa? Ok. Vamos soldar. De repente, escutei o Muam perguntando:
– Mazoni, eu acho que meu eletrodo grudou. O que eu faço?
– Mexa o eletrodo, que ele solta, Muam.
E então eu vi uns fachos de luz verde, para lá e para cá, aquilo parecia uma serpentina dançando no ar. Era o Muam tentando descolar o eletrodo da peça dele. De repente, aquela luz parou.
– Muam, deu certo?
– Deu, Mazoni, tudo certo.
Eis que então o Vardema entrou no box…
– Muam, seu monstro! Olha o que você fez!
Coitado do Muam, ele não conseguiu desgrudar o eletrodo. Esse estava grudado na peça, tão quente que já estava todo vermelho. O menino ficou apavorado…
– O que eu faço, Mazoni?
– Quebra ele, bate o picão nele.
E foi assim que o Muam aprendeu a soldar… Ainda lembro daqueles feixes de luz verde, é a única coisa que se enxerga quando se está de máscara, parecia uma serpentina dançando no escuro. E depois, o Muam apavorado diante do eletrodo incandescente. E as eternas reclamações do velho Vardema…

Perdi contato com a maioria dos amigos que fiz no SENAI. Gostaria de receber notícias dos amigos que estudaram nas turmas T1D2, M2G2, M3B2, M4B2, entre agosto/92 e junho/94. Também os ferramenteiros formados no 1º semestre de 1995. Dos mestres, muitos já não estão mais no SENAI. Lembro com carinho do Renato (tornearia), Oliveira (ajustagem), Almeida (PTO), Valdemar (ajustagem), Henrique (fresa), Lucatto (PTO), Alba (desenho), Campos (desenho), Hélio Buim (desenho), Sérgio Rigo (ciências), Maristela (matemática), Pires (matemática), Pizzo (educação física), Marchini (ferramentaria), Leite (ferramentaria), Wolney (ferramentaria), Wassyl (ferramentaria) e Edmilson chr38quot;Magrãochr38quot; (ferramentaria).

(*) Ivan Mazoni é ferramenteiro formado pelo Senai Roberto Mange. Técnico Eletrônico, pelo Colégio Politécnico Bento Quirino, e graduado em Tecnologia em Processamento de Dados, pela Fatec

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