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São Paulo, 18 de junho de 2025

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21/08/2021

Manufatura aditiva ainda não deslanchou no Brasil


(22/08/2021) – Desde o início da pandemia, muitas indústrias estão acelerando os seus processos de transformação digital na tentativa de se enquadrar definitivamente na era 4.0 e ter os recursos necessários para o atendimento das novas demandas do mercado. Esse cenário, portanto, torna-se bastante favorável para a integração de tecnologias digitais e de manufatura aditiva.

A reportagem do Usinagem-Brasil conversou com algumas empresas que atuam no segmento de manufatura aditiva industrial para entender de que forma este mercado vem se desenvolvendo no Brasil, como foi afetado pela pandemia e, também, quais são os seus principais gargalos. No geral, os investimentos em impressão 3D são muito escassos no mercado nacional, que – segundo os entrevistados – precisa desenvolver ainda maior familiaridade com a tecnologia. Apesar disso, as empresas mantêm boas perspectivas em relação a novos projetos.

Siemens – Desenvolvedora de soluções para todo o processo de manufatura de peças por impressão 3D, a Siemens lida com diferentes realidades nos mercados nacional e europeu. Gerson Silva, especialista de aplicação na companhia, afirma que no Brasil o mercado de manufatura aditiva ainda é bastante incipiente.

Conforme detalhado por Silva, quando o assunto é manufatura aditiva, é preciso considerar quatro segmentos: produção de máquinas, desenvolvimento de software de design de peças, serviços e insumos. Atualmente, a Siemens tem como foco principal o desenvolvimento de soluções para a manufatura de peças metálicas.

“Temos poucos fabricantes de máquinas no Brasil e os custos para trazer a tecnologia são bastante elevados. O material também é caro e, além disso, temos um problema na curva de aprendizado, já que a tecnologia requer mão de obra especializada. Esse conjunto inibe o investimento do empresariado brasileiro”, diz Silva. Hoje, para a Siemens, os produtos com maior fluidez no mercado nacional de impressão 3D são programas dedicados à simulação, como o software NX.

Silva acredita que, mesmo com dificuldades para novos investimentos, a indústria brasileira acabou acelerando o seu processo de digitalização por conta da pandemia, um passo muito importante rumo à integração de tecnologias digitais e de manufatura aditiva. “Por conta do impacto que a pandemia teve no setor logístico, foram detectados muitos casos em que a manufatura aditiva foi utilizada para resolver problemas. O alinhamento com recursos 4.0 permitem a tomada estratégica de decisões em um curto intervalo de tempo”, avalia o especialista.

Por conta de todos os obstáculos já mencionados, no Brasil ainda não é possível produzir em larga escala por meio de manufatura aditiva. Silva pontua que a indústria brasileira precisa estar preparada para este momento, mas que antes carece de apoio – inclusive do governo – para tornar essa tecnologia mais acessível. “Ainda não temos como garantir 100% a repetibilidade da qualidade das peças produzidas, o que impede a produção em larga escala. Também precisamos de uma mudança de mindset, transformando a forma de pensar os projetos, com peças de geometrias antes não executáveis, mas que se tornam possíveis pelo método de adição de material”, finaliza Silva.

Globalmente, a expectativa da Siemens era crescer 30% ao ano na área de manufatura aditiva de metais até 2024. Provavelmente, a meta será revista para 2021 e os números devem ser atualizados por conta da pandemia. Hoje em dia, o setor mais expressivo para o nicho de manufatura aditiva da companhia é o aeroespacial, seguido do médico e do automotivo.

3D Systems – Na desenvolvedora e fabricante de máquinas e materiais para impressão 3D – o clima é de retomada. Para Andreia Cavalli, gerente de canais na empresa, existe uma demanda reprimida por negócios bastante representativa por conta da pandemia. “Existe uma ansiedade por novos negócios e, também, por eventos presenciais”, diz.

Cavalli afirma que a pandemia direcionou o olhar das empresas para o melhor entendimento de tecnologias emergentes, como a impressão 3D. “Além da demanda reprimida, existe o início de uma mudança de comportamento em relação à melhoria de processos. Afinal, quanto mais automatizado e digitalizados os processos, menor o baque em situações adversas como a pandemia”, argumenta a gerente.

Hoje, os negócios da 3D Systems são puxados pela indústria, com o segmento de bens de consumo em destaque. A empresa também notou crescimento na área médica, o que “tem sido uma surpresa bem agradável, assim como o ramo de joalheria”, explica Cavalli. Do total dos negócios, 50% corresponde à indústria, 30% saúde e os outros 20% são igualmente distribuídos entre os segmentos de joalheria e odontológico.

Dentro da área industrial, os segmentos aeroespacial e automotivo apresentaram queda na reposição de suprimentos para a base de equipamentos já instalada. Houve também retração na área da educação, já que as universidades sofreram cortes de verba e perderam a sua capacidade de aquisição de novos equipamentos.

A gerente de canais aponta a mão de obra técnica como um dos maiores gargalos da manufatura aditiva no Brasil: “A mão de obra técnica, para manutenção de equipamentos, por exemplo, é muito escassa. Isso requer investimentos para gerar mudanças no processo produtivo. As empresas ainda são muito tímidas em relação a isso. Toda mudança cultural é demorada e representa uma grande oportunidade”, comenta.

Atualmente os softwares representam a maior demanda da 3D Systems. Em termos quantitativo, a empresa vende mais software. Porém, são os equipamentos (vendidos em menor quantidade) que geram maior receita. Em 2021, a intenção é crescer 15% em relação a 2019 (pré pandemia). Estão previstos – ainda para este ano – os lançamentos de algumas matérias-primas. No início do ano que vem algumas novas tecnologias devem ser apresentadas ao mercado. “Estamos bastante otimistas, vamos ter bastante novidade pela frente”, conclui Cavalli.

GF Machining Solutions – Sobre a integração de tecnologias (digitais e de manufatura aditiva), Marcelo Garbelotti, gerente de vendas da fabricante de máquinas GF Machining Solutions, aponta que essa fusão deve acontecer no início do projeto e ir até as etapas de fabricação e inspeção final. “A transformação digital está impulsionando essa integração para atingir uma redução de custo de pelo menos 30% na produção seriada de peças”, diz. Segundo ele, a junção de tecnologias de adição e remoção de material (usinagem) – alinhada a um design adequado – pode reduzir os custos de produção em massa.

O gerente sinaliza que a viabilidade da produção seriada está relacionada também ao modo como a manufatura aditiva ainda é vista pelo mercado. “Ela precisa deixar de ser vista somente como um processo aditivo. É preciso objetivar também as operações de acabamento que são executadas por máquinas automáticas a fim de reduzir a taxa de refugo das operações manuais”, explica. De acordo com ele, isso requer alta competência no design para desempenho, combinada com a compreensão de tecnologias de adição e remoção de material.

Garbelotti afirma que no Brasil existe uma tendência de crescimento para o mercado de manufatura aditiva. Considerando os principais setores de compras – médico, bélico, universidades, por exemplo – ele considera que existe um grande potencial na América do Sul. “A perspectiva para novos projetos na indústria em geral é positiva”, diz.

Atualmente, a GF conta com uma impressora 3D – modelo DMP Flex 350 – instalada no Brasil, em uma empresa do segmento bélico. “Um protótipo de arma feito pelo método tradicional demora cerca de dois meses para ficar pronto. Hoje, com manufatura aditiva, o processo leva três dias. Como podemos ver, são máquinas de muito valor agregado”, pontua.

AMS Brasil – A AMS Brasil – Sistemas Avançados de Manufatura oferece soluções para os mercados de usinagem e de manufatura aditiva, o qual – como pontuado anteriormente – está em formação em relação à sua base de conhecimento. “Estamos em um ciclo que, enquanto as pessoas não se familiarizarem com a tecnologia, o mercado tende a não expandir. O processo que vivemos hoje é de conversão”, argumenta o gerente comercial Matheus Baraniuk.

Ele conta que apesar de algumas dificuldades – como a alta do câmbio desde o início da pandemia – o mercado brasileiro responde bem e se interessa pelos resultados que a manufatura aditiva pode entregar. “O 3D pode alavancar melhorias nos processos produtivos das empresas e, para isso, é necessário que a gente tenha mão de obra disponível”, afirma o gerente. Ainda de acordo com Baraniuk, com a pandemia muitas empresas notaram que poderiam estar passando por menor grau de dificuldade se empregassem outras tecnologias, como a impressão 3D, que apresenta rapidez no ciclo de desenvolvimento de novos produtos.

Os mercados mais representativos atualmente para a AMS são o médico, o de ferramentaria e o de peças de reposição. Para atender estes nichos, a holding atua por meio das empresas EOS (aplicação industrial de metal e polímero), Lithoz (focada na área médica e impressão em cerâmica) e Sintratec (voltada para polímeros). A AMS conta com uma equipe especializada e dedicada ao atendimento do mercado de manufatura aditiva.

Em relação aos rumos do mercado, a AMS se mostra otimista. “Estamos na expectativa de que muitos projetos que vinham fortes em 2019/2020 sejam retomados. Nós devemos ter de 50 a 60% de crescimento em relação ao período pré-pandemia. Esse período mostrou a importância de ter agilidade nas tomadas de decisão e de ter uma equipe que consiga projetar dentro de diferentes mercados. O 3D não vai substituir, é o que vai dar mais agilidade à indústria”, finaliza Matheus Baraniuk. (Sheila Moreira)

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