(20/09/2015) – A notícia sobre o fechamento da fábrica de pastilhas do Grupo Sandvik no Brasil, publicada pelo Usinagem-Brasil em primeira mão, surpreendeu o mercado. De longe, foi a notícia mais lida no site em 2015. Também gerou muitos comentários no mercado, com vários profissionais do setor manifestando pesar pela perda de uma fábrica tão tradicional no Brasil, mas também gerou alguns boatos.
Entre esses boatos, o de que a empresa iria deixar de atuar no mercado brasileiro. “A Sandvik Coromant não tem planos de sair do Brasil”, afirma Cláudio Camacho, presidente da Sandvik Coromant para as Américas do Sul e Central. Nesta entrevista, o executivo explica as razões do fechamento da unidade fabril, desfaz os boatos e reforça o posicionamento da marca no mercado brasileiro, com foco nas áreas comercial e de serviços. Frisa ainda que será mantida a estratégia no que tange a treinamento e inovação de processos.
Usinagem-Brasil – Após o anúncio do fechamento da fábrica de insertos intercambiáveis surgiram boatos de que a Sandvik Coromant deixaria de atuar no mercado brasileiro. Qual a verdade nessa história?
Cláudio Camacho – Estes boatos são absolutamente falsos. A Sandvik Machining Solutions (SMS), que é uma das áreas de negócios do grupo Sandvik, decidiu concentrar a produção em uma quantidade menor de unidades produtivas, visando adequar o volume à realidade do mercado mundial. Hoje, como em vários outros segmentos, existe excesso de produção comparado à demanda existente.
Com essa decisão, os produtos que eram manufaturados no Brasil, passarão a ser produzidos em outras unidades do grupo espalhadas pelo mundo. A Sandvik Coromant tem suas atividades globais independentes da localização das plantas produtivas. Esta prática não é diferente no Brasil, onde já comercializávamos vários itens no Brasil que não eram produzidos aqui. Sendo mais específico e direto, a Sandvik Coromant não tem planos de sair do Brasil. Estamos aqui há mais de 60 anos e aqui continuaremos, buscando sempre manter a liderança de mercado, que conquistamos há vários anos.
UB – Surgiram também boatos de que o Grupo Sandvik estaria com dificuldades financeiras.
Camacho – Também não é verdade. A Sandvik é uma empresa global e, como tal, tem seu balanço publicado nas bolsas ao redor do mundo. Basta uma rápida analisada nos números para concluir que se trata de uma empresa financeiramente saudável. Não existe base sólida para este tipo de especulação.
UB – Os boatos atingiram também outras unidades e divisões do mesmo grupo no Brasil. Tem quem qualifique esses comentários como oportunismo da concorrência. Você concorda?
Camacho – Acho que nossos concorrentes não usariam deste artifício para tentar nos atingir. Prefiro acreditar que a comunicação que enviamos aos nossos clientes foi interpretada de uma forma diferente daquela que nós gostaríamos… Para que não haja mais dúvidas, as únicas unidades afetadas foram apenas as de produção de pastilhas e ferramentas especiais localizadas na Avenida das Nações Unidas, 21732, em São Paulo.
UB – Qual será o posicionamento da Sandvik Coromant no mercado brasileiro a partir de agora?
Camacho – Nosso posicionamento continua a ser o mesmo. Buscamos dar aos nossos clientes o melhor atendimento do mercado nacional. O fato de a produção não estar aqui, não significa em absoluto que mudaremos nossa qualidade de serviços ou produtos. Aliás, nossos planos para 2016 são audaciosos, apesar de sabermos que teremos pela frente um outro ano de grandes desafios. Lançaremos muitos produtos que certamente trarão maior competitividade para nossos clientes, fato este que será fundamental para enfrentarmos a difícil situação que atravessamos atualmente.
Temos um dos sistemas logísticos mais eficientes do setor metal mecânico, fato este comprovado pelo próprio órgão governamental responsável por importações, o que nos permite garantir aos nossos clientes que nada afetará nossa logística atual.
UB – O que muda na estrutura da filial brasileira após o fechamento da fábrica?
Camacho – Infelizmente, para a Sandvik do Brasil como grupo, teremos uma redução no número de colaboradores, o que nos deixa extremamente tristes, já que a grande maioria destes colaboradores está na empresa há muitos anos. Estamos fazendo esta transição de uma forma ética e transparente (como sempre fizemos), com objetivo de tornar este acontecimento o menos traumático possível para todos. Na Sandvik Coromant não haverá alteração na estrutura organizacional devido a este fato.
UB – Existe alguma possibilidade de o grupo reverter a decisão do fechamento da fábrica?
Camacho – Não, não existe! Esta foi uma decisão estratégica, que só foi tomada depois de muita análise e discussão interna.
UB – Qual a repercussão do fechamento da fábrica entre os clientes da Sandvik no Brasil?
Camacho – A reação da maioria de nossos clientes foi de constrangimento e tristeza. Estamos no Brasil desde o início da década de 1950 – chegamos praticamente juntos com a indústria automobilística. Muitos de nossos clientes, amigos e até concorrentes já estiveram em nossa unidade para treinamentos ou simplesmente para nos visitar, já que éramos o único fornecedor produzindo pastilhas na América Latina com a mais avançada tecnologia. Recebemos muitas mensagens emocionadas relatando fatos profissionais e até pessoais com nossa fábrica.
Por sinal, este é outro ponto que gerou dúvidas no mercado: o fato de estarmos fechando a nossa produção, não significa que mudaremos nossa estratégia no que tange a treinamento e inovação de processos. Somos certamente uma das empresas que mais investem em treinamento e transferência de conhecimento aos clientes. Temos um centro de capacitação extremamente moderno e preparado para seguir nesta direção. Nossos objetivos nesta área são mais audaciosos que antes.
Com relação à comercialização e garantias de continuidade, nossos clientes, de uma forma geral, entenderam que se trata de uma decisão estratégica e se mostraram tranquilos.