São Paulo, 29 de março de 2024

20/02/2016

Os rumos da indústria de manufatura brasileira


(*) Alfredo Ferrari

(21/02/2016) – Muito se tem escrito a respeito de Manufatura Avançada, Indústria 4.0, Fábrica Inteligente, Internet das Coisas, entre outras terminologias. Mas, enfim, são todos caminhos que permitirão às indústrias obter soluções que levarão a ter aumentos de produtividade, excelência na qualidade e reduções de custos com base nos constantes avanços tecnológicos que vem ocorrendo nos últimos anos.

Porém, a questão é: em qual estágio se encontra a indústria de manufatura no Brasil e estaria ela preparada para receber essas novas tecnologias?

É fundamental, inicialmente, entender como se deu a evolução industrial no mundo:

. 1º período: nos séculos 18 e 19, os equipamentos e mecanismos eram movimentados através da máquina a vapor.

. 2º período: no início do século 20, as máquinas passaram a ser acionadas através de motores elétricos. São as máquinas convencionais, utilizadas ainda nos dias de hoje.

. 3º período: a partir de meados do século passado, as máquinas começaram a ser controladas digitalmente, como exemplo, as máquinas-ferramenta com comandos numéricos computadorizados (CNC), aplicadas de forma autônoma e que provocaram uma verdadeira revolução industrial.

. 4º período: começaram a surgir no início do presente século as células de manufatura flexíveis, compostas por um conjunto de equipamentos controlados num ambiente ciberfísico, que realizam a manufatura do produto de forma automática, desde a captura da peça em bruto até a entrega da sua forma final para o estoque ou linha de montagem, sendo a produção controlada digitalmente. Diversas máquinas-ferramenta, equipamentos para medição e controle de qualidade, máquinas de gravação a laser, robôs articulados, dispositivos para montagem, plataformas para movimentação das peças a serem produzidas, além de outros elementos, todos interconectados, com o apoio da Internet, controlados e visualizados virtualmente, para um trabalho automatizado e flexível, a fim de atender o desejo do cliente. Este é o conceito da Manufatura Avançada para o qual os alemães criaram a denominação de Indústria 4.0.

As primeiras linhas de Manufatura Avançada começam a ser aplicadas nos países industrializados e em certos segmentos que justificam o seu investimento. Uma célula avançada depende do produto ou família de produtos a serem produzidos, das quantidades dos lotes e do nível de demanda. Ainda, porém, são soluções que estão se consolidando nesses países avançados tecnologicamente antes de serem difundidas internacionalmente.

Por outro lado, as máquinas-ferramenta modernas, sejam elas por arranque de cavacos, por deformação ou por abrasão, são controladas digitalmente e estão muito evoluídas e eficientes. Elas possibilitam a manufatura completa de peças complexas, eliminando operações secundárias, quando comparadas com a aplicação de máquinas convencionais, não digitais. No Brasil, há um caminho muito longo para ser percorrido para se atingir a excelência da produção nos moldes dos países industrializados. Muitas empresas nacionais ainda estão no estágio do segundo período de evolução tecnológica em vias de evoluir para os equipamentos que compõe o terceiro período desta evolução.

Em face da atual crise política e econômica que o Brasil vem enfrentando nesta última década, as dificuldades para acompanhar os países industrializados para implantar soluções baseadas no conceito da Manufatura Avançada estão sendo enormes. A realidade é que o parque de máquinas brasileiro está demasiadamente envelhecido com muitas delas sucateadas.

Dados demonstram que a idade média do universo de máquinas-ferramenta no país é de 17 anos contra 5 a 8 anos nos países considerados potências industriais. Não há estatísticas confiáveis, mas estima-se que metade desse parque de máquinas, instalado principalmente em micro e pequenas empresas, é composto por máquinas convencionais. O país necessita, prioritariamente, investir intensamente em equipamentos de moderna tecnologia para passar da Indústria do segundo período de evolução tecnológica para a do terceiro período, ou seja, substituir máquinas convencionais por máquinas-ferramenta CNC, aplicadas estas inicialmente de forma autônoma.

No curto prazo, algumas poucas empresas, por suas características tecnológicas e condições financeiras, estarão capacitadas para investir em células de manufatura avançada flexíveis, com seus equipamentos conectados à Internet, e o trabalho sendo visualizado e controlado virtualmente. Todavia, estas novas tecnologias devem começar a ser divulgadas e ensinadas de imediato, pois no futuro, num momento propício, elas serão disseminadas nas indústrias de manufatura brasileira, tal qual ocorreu na introdução da tecnologia do Comando Numérico nas máquinas-ferramenta, no início do terceiro período da evolução da indústria e que hoje é uma realidade neste país.

Por outro lado, o governo federal deve rapidamente tomar medidas que promovam uma política industrial consistente e de longo prazo, canalizando as oportunidades para as empresas nacionais, com linhas de financiamento isonômicas com os mercados internacionais, para que os empresários possam realizar os seus futuros investimentos com base nas modernas tecnologias voltadas para as indústrias de manufatura. Este é o caminho para que a indústria brasileira eleve a sua produtividade e promova o crescimento de sua economia.

(*) Alfredo Ferrari é engenheiro mecânico e vice-presidente da Câmara Setorial de MáquinasFerramenta da Abimaq

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